Pousemos, hoje, o nosso olhar atento, e a nossa predisposição de coração, sobre a eloquência das palavras que continuam a ser-nos legadas em herança pelo Venerável Padre Jean Gailhac: “É um princípio incontestável: se as palavras voam, os exemplos arrastam.” (GS/18/II/81/A*)
Com base no legado das palavras escritas, e através da observância da vida de tantas pessoas que vivem na fidelidade ao carisma e espiritualidade do Instituto RSCM, pode-se comprovar que, de facto, este «é um princípio incontestável», que é uma faceta / traço da vida, fé e obra do nosso Fundador, assim como do nosso Instituto.
Tal como para Jean Gailhac, também para nós foram, e continuam a ser, importantes os ensinamentos em contexto familiar e social. Desde cedo, habituámo-nos a ouvir, em jeito de conselhos, vários ditos populares:
- “palavras, leva-as o vento”;
- “as palavras entram a cem e saem a cento e cinquenta”;
- “entra por um ouvido e sai pelo outro”;
- “quem muito fala, pouco acerta”;
- “existem pessoas que falam muito e não dizem nada, já outras, com o silêncio, surpreendem-nos”;
- “bem prega Frei Tomás, olha para o que ele diz, não olhes para o que ele faz”.
A pouco e pouco, nestes ditos populares, fomos descobrindo que as palavras podem cair em “saco roto” e, como tal, mais importante que o dizer é o fazer, é ser exemplo. Contudo, dizer e fazer devem alinhar pela batuta da coerência.
Obviamente que as palavras são importantes, pois perpetuam no tempo o conhecimento das gerações que nos precederam, constituindo-se como fundamental legado para as gerações do presente e do futuro. Contudo, apesar de serem um património deveras importantíssimo, aquilo que realmente as credibiliza é a coerência da ação. Podemos dizer que as ações são para as palavras aquilo que as obras são para a fé, como nos diz S. Tiago: “a fé: se ela não tiver obras, está completamente morta.” (Tg 2,17)
Apraz salientar os ensinamentos do Verbo que “fez-se homem e veio habitar connosco” (Jo 1,14): “Na verdade, dei-vos exemplo para que, assim como Eu fiz, vós façais também.” (Jo.13,15)
O mesmo Senhor Jesus, citando Isaías, adverte-nos: “Este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim.” (Mt 15,8) ou, ainda, “Raça de víboras! Como podeis falar de coisas boas, se sois maus?” (Mt 12,34) E continua “Observai tudo o que eles disserem, mas não imiteis as suas obras, pois eles dizem e não fazem.” (Mt 23,3)
Naturalmente que emerge destes alertas a importância de sermos coerentes: «Sim, Sim; Não, Não» (Mt 5-37), ou seja, ao «Sim» das nossas palavras, tem que estritamente corresponder o «Sim» das nossas ações, assim como ao «Não» das nossas ações, tem de corresponder o «Não» das nossas palavras; não podemos, nem devemos, abrir precedentes para o «Nim».
Pese embora possa transparecer um certo preciosismo, agrada salientar que o Padre Gailhac, nas cartas dirigidas às Religiosas do Sagrado Coração de Maria e, por inerência, também a nós, por trezentas e oitenta e quatro usa a palavra «exemplo/s» para exortar as Irmãs – 114 vezes no I volume e 270 vezes no II volume, ora exortando a seguir o exemplo de Jesus Cristo que “só ensinou o que praticou.” (GS/24/II/82/A*), ora exortando as Irmãs, e a nós, a espalhar “por toda a parte e em tudo, um odor celeste porque se a palavra atai, os exemplos arrastam.” GS/23/VII/84/A*
Neste ano da graça, mais a preceito, cuidemos da vida com esperança, ousando copiar e imitar os exemplos do Mestre e do seu fiel discípulo – Venerável Padre Jean Gailhac, evangelizando continuamente com a vida e, quando necessário, usando palavras. Mantenhamos gravada no nosso olhar atento, e no nosso coração, esta última exortação eleita: “Os exemplos de Jesus, imitados, copiados, seguidos, eis a vida santa na terra e gloriosa no céu.” (GS/14/III/79/B)
Aceitas o desafio?
Gaspar Cruz