Olhar o mundo com esperança e alegria, enfrentar a realidade com otimismo, olhar o outro com compaixão, deveria ser o nosso farol, mas nem sempre conseguimos manter o rumo certo no caminho da nossa vida.
Com os olhos postos no horizonte do bem comum, saibamos construir relação, criar laços, saibamos cuidar de nós e dos outros.
A vertigem da velocidade dos nossos dias, a sucessão dos acontecimentos, atropelam-nos, fazem esquecer o que foi notícia ontem, condicionam a nossa visão da realidade e, frequentemente, banalizam o que nos devia indignar. O que realmente importa somos nós e os outros. Cuidando de nós, estamos aptos para cuidar do outro que é nosso semelhante e irmão, respeitando e valorizando a sua individualidade, o seu direito em ser diferente, valorizando a sua dignidade e a sua realização plena.
Nenhum ser humano é descartável, porque todos temos a mesma dignidade aos olhos do nosso Deus.
Sejamos capazes de ver no outro Jesus Cristo, sejamos capazes de escutar o outro com o coração, sejamos seres empáticos, cuidando da vida com esperança, quer seja da vida daquele que mora ao nosso lado, que estuda ou trabalha no mesmo local, quer seja do emigrante, do mendigo, do hospitalizado, do idoso, enfim, de toda a criação.
Ver com o coração permite ver o que é invisível aos nossos olhos.
Nós, educadores, transformamos o tempo em que estamos com os nossos alunos em tempo de crescimento e de aprendizagem, enraizada nos valores humanos e cristãos.
Neste processo de transformação que vamos experienciando ao longo da nossa vida, vamos percebendo o quão é importante não desperdiçar o nosso tempo, aplicando-o naquilo que é essencial.
Quando nos damos conta, o tempo passou sem que déssemos por isso.
Quando paramos para descermos da mente ao coração, no silêncio do nosso íntimo, percebemos que o que realmente nos fez e nos faz feliz, foram e são os momentos em que nos demos e damos ao outro. Tudo o resto é efémero.
O que acontece quando damos e quando nos damos é extraordinário.
Assim, cada um deverá fazer o caminho do passar do eu ao nós, do passar do prazer de ter à felicidade do dar.
Neste processo de transformação importa cuidarmos da qualidade das relações interpessoais, das relações de todos aqueles que se cruzam connosco.
Deixemo-nos transformar pela beleza do mundo, deste mundo criado por Deus.
Deixemo-nos transformar pela beleza do canto dos pássaros, pela beleza das flores, do riso de uma criança, pelas cores do céu, pelo perfume que aromatiza os nossos dias, pela melodia de uma sinfonia, pelo cair das gotas de chuva, pela beleza das mãos do outro.
Como nos diz o Ven. Jean Gailhac “Que tudo seja novo em nós: o coração, a voz, as ações, que tudo em nós tome a forma de Jesus Cristo.”
Sabendo-nos pequenos, podemos ser tentados a questionar-nos “o que conta aquilo que eu faço para transformar o mundo? Tudo é tão superior a mim.”
Não será esta uma forma de nos desculparmos pelo pouco que fazemos pelo bem comum?
Não poderemos nós ser agentes de mudança?
Não será a nossa pequenez, a nossa imperfeição, o segredo para grandes feitos?
Recordemos a história do cântaro com fissuras que em cada viagem à fonte, deixava cair gotas de água, regando as plantas do caminho, enchendo-o de flores.
Deixemo-nos tocar pelo pobre, pelo indigente, pelos refugiados e busquemos a força interior que existe em cada um de nós para fazer deste mundo um lugar melhor, mais solidário e justo, onde cada um é nosso irmão, nesta casa comum que a todos sustenta, neste pálido ponto azul, suspenso no vasto Cosmos, como nos diz Carl Sagan a propósito da fotografia tirada pela sonda Voyager 1, a uma distância de 6 biliões de quilómetros da Terra.
Só desse modo nos realizamos como humanidade e construímos a felicidade coletiva.
E tantos são os exemplos que o confirmam. Vejamos Mahatma Gandhi, Martin Luther King, Madre Teresa de Calcutá, Greta Thunberg e tantos outros. O filme “favores em cadeia” retrata este poder que existe em cada um de nós. E, como numa seara, mesmo o vento forte não consegue derrubar a frágil haste da espiga, por estar rodeada de outras hastes de espiga que balançam ao sabor do vento. Juntos somos mais do que a soma das partes. Juntos somos capazes de feitos extraordinários.
Acreditemos que cada um de nós pode contribuir para a transformação do mundo.
Reconhecendo as nossas fragilidades, deixemo-nos tocar por Deus, nesta relação íntima de escuta e oração, com um coração pleno, transparente e aberto à transformação.
Procuremos unirmo-nos a Deus, deixando-nos renovar e cooperar na transformação ao jeito de Jesus Cristo.
Citando novamente o Ven. Jean Gailhac “Estar ressuscitado é estar transformado, é ser um com Jesus Cristo”.
Que a nossa vida seja revestida de amor, ou seja, de Jesus Cristo.
Serafim Assunção e Costa